Suzume | Crítica: Makoto Shinkai faz da dor uma obra de arte
E agora que está disponível na Netflix, pude conferir o anime Suzume, que tem direção e roteiro de Makoto Shinkai (Your Name). O filme concorreu ao Globo de Ouro de 2024, e a indicação é mais do que merecida, por toda a beleza na busca de mostrar de uma outra forma tragédias pelas quais o Japão passou, e ainda precisa lidar.
Com uma linda fotografia, e traços marcantes, a animação empolga já em seus momentos iniciais, ao colocar a jovem Suzume frente-a-frente com alguém de seu passado, e a dor de estar ali. É incrível a transição e a forma como ela precisa lidar com esses sentimentos, frequentar a escola e 12 anos ainda ter essa dor. O mesmo acaba valendo para sua tia superprotetora, Tamaki, com perdas e sem uma vida como ela bem gostaria de levar.
O drama evolui muito bem para a fantasia, e a brincadeira de troca de corpos, e a presença do gato mágico traz essa nostalgia de animes antigos, como Sailor Moon e Sakura Card Captors, assim nos cativa em cada nuance apresentada na personagem, que só quer entender o seu passado e coloca em um estranho e algumas portas misteriosas sua busca por conexão e entendimento.
A medida que vamos caminhando, vendo mudanças, e encontrando pessoas que também tiveram inúmeras dores em seu caminho, só traz mais calma para o coração de Suzume. Para ajudar, ela acaba vendo que Daijin, o gato misterioso falante, coloca em Souta uma maldição, que a obriga a carregar sua velha cadeirinha de criança para todos os cantos.
O plot de Suzume é esse, fechar portas que trazem vermes de uma outra dimensão, que somente ela e Souta podem ver, e que quando caem, caso eles não fechem a porta misteriosa, acaba causando tragédias. O desenrolar e apreensão em cima dessas aparições e quedas, é agoniante e conduzem bem a trama, e suas amarrações.
Suzume encerra muito bem sua jornada e nos mostrando o paralelo entre todos os acidentes dos vermes com a realidade, principalmente o que levou a protagonista, onde em 2011, Japão presenciou terremotos e tsunamis sem igual, e que temos a história da usina de Fukushima.
Assistir a essa animação é ter a todo instante o coração e a mente em alerta. Cada história, cada verme e sua respectiva jornada, nos mostra as dores que ali estão, e Souta deixa claro em sua oração para trazer a fechadura e trancar a porta, que devolve a terra aos deuses e que escutam os que ali viveram antes.