domingo, outubro 13, 2024
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O Cramulhão e o Desencarnado | Resenha: HQ entrega um delicioso “causo” de interior, com uma arte incrível

Ler O Cramulhão e o Desencarnado é um encontro muito interessante com uma história e uma narrativa que me fizeram voltar à época das prosas com meus avôs. A arte de Gilmar Machado é instigante e molda de forma sensacional a trama de Lillo Parra.

A sinopse da HQ já nos entrega o ritmo e o ambiente que iremos adentrar nas páginas.

Maria Izabel está de volta à sua cidade natal para o enterro de seu avô. Ela não queria estar ali, mas tudo bem, com certeza ele também não queria estar num caixão. Só que é assim que as coisas são. Mas a morte do avô lhe reservava um macabro segredo: um pacto com o diabo perdido em seus longínquos dias de juventude. E agora que o velho empacotou, o cramulhão, o diabinho, o capeta da garrafa, quer a alma vendida em encruzilhada e tem um contrato selado para levá-la a seu chefe. Mas o velho trapaceiro a escondeu. E o cramulhão não está nada contente?

Com mistérios, suspense e drama na medida certa, ler o quadrinho nos faz caminhar entre o presente da perda do avô de Maria, a mente conturbada do tio Bartô nos fazendo viajar entre lembranças que ele mesmo não consegue colocar em ordem, e os sentimentos engolidos de Odilon e Maria. Os dois primos se separaram e mutias coisas precisavam serem ditas.

A coisa só melhora com a chegada do Cramulhão e como ele passeia entre os familiares e conhecidos de Arceu, o avô de Maria, na tentativa de entender como ele o enganou e não tem uma alma para ele recuperar. Nisso é ótimo ver como ele vende a alma, e principalmente o seu motivo. Agora, descobrir onde está a alma escondida traz uma reviravolta gostosa sobre o passado de Maria e seus familiares, além da relação de honra e promessas.

É muito bom a forma como O Cramulhão e o Desencarnado entrega tudo em sua narrativa e nos faz ficar saudoso dos nossos avós, e também da inocência das coisas do interior. Os quadros, a feição dos personagens, e principalmente a forma de nos conectar ao sotaque caipirês, só dão um toque a mais na trama. Lillo Parra e Gilmar Machado formaram uma dupla excepcional nesse quadrinho.