O Andante | Crítica: A conquista da loucura encenada em volta de poemas e ótima atuação
Este monólogo de Rodrigo Nascimento nos coloca em uma catarse emocional sensacional ao ver O Andante e sua jornada lírica no texto de Elias Andreato. O texto de Andreato é intenso e amarra diversos poemas em uma história tocante e cheia de vida, falando sobre caminhos e poesia, na direção de Eduardo Guimarães, que tem Anna Grecco como assistente.
Nascimento tem em seu apoio no palco, apenas um carrinho de supermercado, cheio de livros e cacarecos, que utiliza na narrativa de nos aproximar desse andante, que busca palavras e poesia para condicionar a sua vida de colecionador de histórias. No centro do palco, 3 painéis que é moldado conforme a narrativa caminha e palavras é esvoaçada para a plateia.
O Andante mostra um lado intimista e Nascimento consegue nos conectar em seu personagem, entregando a devida emoção para esse ser enigmático que quer contar histórias, colecionar poesias. Seu figurino cheio de exageros nos coloca aos pés do personagem e nos reflete sobre as pessoas em situação de rua, e como muitas vezes são ignoradas e não tem suas histórias contadas.
Em conversa com o ator, ele fala sobre o fato de ter assistido a peça com Andreato e a vontade de montá-la, e que ao pedir, o ator cedeu o texto para ele. O texto é impactante, e toda a sua montagem é baseada em poemas e versos que é amarrado e costurado com um pouco das palavras de Andreato, tendo passagens de Clarice Lispector, Manoel de Barros, José Régio e outros.
Para mim, a iluminação e a trilha, de Anderson França e Pan, somadas a interpretação potente de Nascimento, me arrebatou principalmente nas palavras “que ninguém me dê piedosas intenções, ninguém me peça definições! Ninguém me diga: ‘vem por aqui’!“, de Cântico Negro.
O Andante é um espetáculo que nos comove durante todos os seus 55 minutos, e nos transportam para uma outra realidade.